terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fluxo de consciência


Somos engraçados.
Assim que tomamos consciência de que podemos desejar, desejamos logo antecipar nossa vida. Ao iniciarmos nossa vida escolar - pré-escola -, não vemos a hora de estar na quarta série, afinal, é a série dos "grandes". Quando colocamos o pé no ensino fundamental, almejamos, mais do que qualquer outra coisa, estar no ensino médio e quando isso acontece, passamos a sonhar acordados com o aniversário de dezoito anos que, por ironia do destino, parece correr contra nós. Formam-se expectativas e o alívio em saber que você pode beber - É ÓBVIO que você NUNCA colocou uma gota de álcool na boca antes dos dezoito :) - e comprar bebidas etílicas sem receio do vendedor pedir o seu RG.
Dezoito anos é maravilhoso, praticamente, sinônimo de liberdade e de total independência dos pais; relativamente, isso é bom - em teoria. O lado ruim de ter dezoito anos, além da pressão contínua e preocupação com vestibular, é que, se adquirir total independências dos seus pais, precisará de um emprego para se manter e é, exatamente nesse ponto que, ter feito dezoito anos perde a graça. Além do tempo que a faculdade e o estágio irão te tomar, será preciso "criar" mais tempo para resolver problemas adultos e, involuntariamente, a sua vida girará em torno do dia da sua tão desejada formatura. Agora já formado e com um emprego fixo, as exigências aumentam e a equação "formatura mais emprego fixo" pede uma pós, um mestrado e assim por diante para que torne o emprego bom. Sem muita demora, filhos dependerão do seu esforço e seu currículo deverá ter, pelo menos, duas faculdades para garantir a educação e uma aposentadoria, no mínimo, boa para se ter uma velhice razoável. Durante esse longo percurso, surgem as lembranças de que, a única preocupação na infância, era brincar e ter que tomar banho antes de dormir, das bagunças no ensino fundamental e que a fórmula de bhaskara nem era tão complicada assim e os três melhores anos da sua vida foram aqueles em que estava sentado em uma cadeira, no ensino médio. A vontade de poder voltar no tempo nos corrói.
Estejamos, talvez, fadados a nunca estarmos satisfeitos. Quando crianças queremos que os anos passem voando para sermos adolescentes e, por consequência, adultos, mas quando somos adultos gostaríamos de poder voltar a adolescência e, então, a infância onde todo era, realmente, bom e mais simples. Na verdade, só nos sentimos "bem" quando ficamos vinte e quatro horas angustiados ou preocupados com alguma coisa, sinal de que, toda a nossa jornada até aqui, surtiu efeito.
Ai, que vontade de voltar no tempo...